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Descobrindo o azeite de oliva premiado no Planalto Sul do Brasil

Os produtores de Olivas do Gramado enfatizam o oleoturismo como forma de valorizar a qualidade e promover a sustentabilidade.
André Bertolucci e sua família administram o único parque natural de oliveiras do Brasil. (Foto: Olivas do Gramado)
Por Paolo DeAndreis
14 de janeiro de 2025 16:37 UTC

Situado no coração do estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, um vasto parque dedicado à natureza e às oliveiras surgiu como fonte de prêmios azeite virgem extra.

Abrangendo dezenas de hectares, o parque abriga uma variedade diversificada de plantas e animais, além de milhares de oliveiras. A cada ano, centenas de milhares de visitantes se maravilham com seu esplendor natural.

O Parque Olivas do Gramado fica nas colinas verdejantes da região do Rio Caí, a cerca de duas horas ao norte de Porto Alegre. Oficialmente aberto aos visitantes há seis anos, o parque de oliveiras está enraizado em uma rica tradição familiar.

Veja também:Após ano devastador, produtores brasileiros desafiam probabilidades

"O parque comemorou seu sexto aniversário em dezembro”, disse André Bertolucci, coproprietário do Olivas do Gramado. "No entanto, o trabalho de base, incluindo infraestrutura turística, estradas de acesso, olivais, máquinas e equipamentos, foi feito em meados da década de 2010, quando os primeiros investimentos foram feitos em nossa propriedade familiar para realizar um grande sonho.”

Desde 2023, Olivas do Gramado conquistou dois Prêmios Prata consecutivos NYIOOC World Olive Oil Competition edições pela sua delicada blend de azeitonas Arbequina, Picual, Frantoio, Koroneiki, Ascolana e Manzanilla.

A família contou com a expertise do patriarca Pedro Bertolucci, que promovia o turismo no Brasil desde a década de 1980.

"Junto com meus irmãos Paula e Daniel, e nossa falecida mãe Susana Bertolucci, visitamos olivais em países como Portugal, Espanha e Itália, e observamos que o cultivo de azeitonas no Brasil ainda estava em seus estágios iniciais”, disse Bertolucci.

Foi então que oleoturismo tornou-se a força motriz por trás de um novo projeto.

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Entre as ofertas turísticas do Olivas do Gramado está a oportunidade dos visitantes criarem seus próprios blends de azeites de oliva. (Foto: Olivas do Gramado)

"Vimos uma oportunidade única de compartilhar o fascinante processo de produção de azeite de oliva extravirgem de alta qualidade com os brasileiros, enriquecido por uma variedade de experiências gastronômicas, aventureiras, contemplativas e divertidas que agora formam o núcleo das atividades do Olivas do Gramado”, disse Bertolucci.

"No parque, os visitantes podem participar da degustação sensorial harmonizada, experimentando até sete azeites de oliva e infusões aromáticas diferentes, cada um harmonizado com alimentos específicos”, acrescentou. "Durante apresentações diárias realizadas em cinco sessões em nosso auditório com 40 lugares, nossos sommeliers conduzem miniaulas sobre azeite de oliva, abordando tópicos como colheita, extração, atributos sensoriais, fraude, análise química e uma introdução à avaliação sensorial.”

A família Bertolucci também investiu em um trem turístico, o Olivas Express, que viaja pelo olival enquanto um guia turístico descreve o plantio, o manejo do olival e a colheita.

"Em fevereiro e março, realizamos um evento chamado Nostra Oliva, onde os visitantes participam da colheita da azeitona e da extração do azeite, até mesmo engarrafando seu próprio ouro líquido”, disse Bertolucci. 

"O dia termina com uma vista do pôr do sol sobre os cânions, com DJs convidados, uma generosa variedade de antipasti e, claro, nosso café da manhã sem filtro feito na hora. olio nuovo", Acrescentou.

Segundo Bertolucci, Olivas do Gramado atrai 250,000 visitantes anualmente, beneficiando-se de sua localização em um popular destino turístico local.

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Seu proprietário estima que um quarto de milhão de pessoas visitam Olivas do Gramado anualmente para aprender sobre o azeite de oliva e apreciar a paisagem pitoresca. (Foto: Olivas do Gramado)

"Situado na Mata Atlântica e oferecendo vistas deslumbrantes dos cânions das Pedras Brancas, no interior de Gramado, uma área moldada pela colonização ítalo-germânica na região das Hortênsias, no Rio Grande do Sul, esse sonho se tornou realidade”, disse Bertolucci.

Olivas do Gramado cultiva 29 hectares de olivais com aproximadamente 12,600 oliveiras, incluindo Arbequina, Koroneiki, Ascolana e Manzanilla. Variedades adicionais espanholas, gregas e italianas também são cultivadas na propriedade.

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A maioria das oliveiras tem cerca de 10 anos, algumas mais novas. Conforme essas árvores amadurecem, a empresa prevê um aumento substancial na produção de azeitonas.

A seleção das cultivares apropriadas foi essencial para o sucesso do projeto.

"Aprendemos muito com o Uruguai, principalmente com a Associação Uruguaia de Oliveiras (Asolur) e com a faculdade de química da Universidade da República Uruguaia”, disse Bertolucci.

"O Uruguai tem uma longa história de cultivo de azeitonas na América do Sul e serve como uma excelente referência para a olivicultura brasileira devido às semelhanças de terroirs”, acrescentou. "Isso nos ajudou muito a selecionar as variedades mais adequadas ao nosso solo na Serra Gaúcha.” 

Segundo Bertolucci, a preservação ambiental é um dos princípios básicos da olivicultura brasileira.

"Em Olivas do Gramado, todas as matas ciliares são completamente preservadas, protegendo o pomar contra fungos, pulgões, cochonilhas e outras doenças que podem afetar as oliveiras”, disse ele.

"Uma grande parte da infraestrutura turística é alimentada por uma usina fotovoltaica, que usa painéis solares para gerar energia verde para o moinho, laboratório, loja e restaurante”, acrescentou Bertolucci.

Além disso, a empresa obtém sua água de fontes e poços artesianos. Olivas do Gramado também dá grande importância ao tratamento de resíduos.

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As fortes chuvas da primavera anterior resultaram em uma pequena colheita e uma produção historicamente baixa de azeite de oliva no Rio Grande do Sul. (Foto: Olivas do Gramado)

"Todos os resíduos orgânicos dos restaurantes são compostados e posteriormente usados ​​como fertilizante para os olivais e jardins orgânicos”, disse Bertolucci. "Resíduos não orgânicos, como papelão, alumínio e plástico, são coletados, separados e armazenados em contêineres antes de serem enviados para reciclagem.”

"Os lucros obtidos com a venda desses materiais são reinvestidos na manutenção de lixeiras e contêineres, sinalização turística e educação ambiental para nossos funcionários”, acrescentou.

A empresa também opera uma estação de tratamento de efluentes, descrita por Bertolucci como "“estado da arte”. A planta converte águas residuais em água cinza usada para limpeza externa.

"Além disso, mais de 49 hectares de áreas de preservação permanente garantem a preservação integral da flora e fauna da região”, disse.

Segundo Bertolucci, os olivicultores da Serra Gaúcha enfrentam dois grandes desafios, entre eles o solo basáltico ácido, com alto teor de alumínio e que exige calagem regular.

"O segundo desafio é o terreno íngreme, o que dificulta a instalação de telas de sombra e a colheita”, observou Bertolucci.

Apesar de investimentos significativos ao longo dos anos, planejamento cuidadoso e boas práticas agrícolas, os produtores da região continuam vulneráveis ​​à crescente imprevisibilidade do clima.

"Em 2023, fortes chuvas de setembro a agosto interromperam as fases de floração, polinização e fertilização das oliveiras no sul do Brasil”, lembrou Bertolucci. "Apenas alguns produtores tiveram colheitas bem-sucedidas em 2024, o que foi decepcionante. A abertura oficial da colheita de 2024 foi realizada em Olivas do Gramado, pois nosso microclima nos protegeu dos impactos severos enfrentados pela maioria dos produtores gaúchos.” 

"Em maio de 2024, no entanto, enfrentamos a maior tragédia climática da história do país. Chuvas torrenciais causou inundações, deslizamentos de terra e danos à infraestrutura, inclusive em nossa propriedade, onde a principal estrada de acesso foi destruída”, acrescentou. "Tivemos que abrir uma estrada secundária e fazer investimentos significativos para reparar a danificada.” 

"Apesar desses contratempos, reabrimos a principal estrada de acesso em dezembro e não enfrentamos grandes problemas com as instalações turísticas, moinho ou olival”, continuou Bertolucci.

Outros desafios decorrem de doenças que podem afetar as oliveiras. 

"Na Serra Gaúcha, a alta umidade e a neblina frequente exigem um monitoramento cuidadoso dos fungos, que se espalham facilmente nesse ambiente”, explicou Bertolucci. "Outras doenças, como cochonilhas, pulgões e moscas-brancas, são menos comuns. Para manter nosso olival saudável, usamos fungicidas e inseticidas regulamentados para proteger as árvores.”

"Atualmente, estamos testando produtos orgânicos da Polônia em seções do nosso olival para avaliar a possibilidade de transição para um sistema de cultivo orgânico no futuro”, acrescentou.

O próximo passo envolve uma maior expansão, com seis hectares adicionais de oliveiras que devem começar a produzir em breve.


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