Novo spray pode proteger oliveiras da Xylella

Os pesquisadores desenvolveram uma tecnologia que permite a inativação de genes específicos de plantas por meio de uma única aplicação de pulverização.
Por Simon Roots
30 de outubro de 2023, 15h16 UTC

Uma equipe de pesquisa do Instituto de Biologia Molecular e Celular Vegetal criou uma tecnologia inovadora para inativação precisa e duradoura de genes vegetais usando uma única aplicação de spray.

A descobertas, publicado na Nucleic Acids Research, detalha uma abordagem inovadora que emprega um vírus benigno que libera pequenas moléculas de RNA personalizadas para silenciar seletivamente os genes alvo sem alterar a composição genética da planta.

Esta característica tem uma importância significativa na União Europeia, onde regulamentação em torno de organismos geneticamente modificados (OGM) é rigorosa. Consequentemente, a equipa de investigação apresentou um pedido de patente europeia para salvaguardar esta tecnologia de propriedade conjunta do Conselho Nacional de Investigação espanhol (CSIC) e da Universidade Técnica de Valência.

Veja também:Bactérias do Olive Grove podem ser a chave para o combate à Xylella

A tecnologia depende do uso de microRNAs artificiais (amiRNAs) – moléculas minúsculas de RNA que exibem características semelhantes às do DNA, mas são significativamente menores.

Esses amiRNAs são meticulosamente projetados para garantir alta especificidade, evitando a inativação involuntária de genes. Eles são derivados de moléculas precursoras maiores cujo tamanho foi otimizado usando Arabidopsis thaliana, uma planta herbácea frequentemente empregada em pesquisas de biologia molecular e genética de plantas.

Este método abre possibilidades de ampla adoção no mercado. Tem aplicações no aumento da produtividade das culturas, na proteção das plantas contra doenças e no fortalecimento da sua resiliência às mudanças ambientais.

O spray, que contém um vírus inofensivo, é aplicado na planta alvo. Uma vez dentro da planta, o vírus se multiplica e libera as moléculas artificiais de RNA necessárias para inativar o gene desejado.

"Por um lado, conseguimos reduzir consideravelmente o tamanho das moléculas precursoras dos microRNAs artificiais sem afetar a sua atividade”, disse Alberto Carbonell, pesquisador do CSIC.

"Por outro lado, provamos que podemos inativar genes vegetais pulverizando extratos vegetais que incluem vetores virais inócuos que produzem amiRNAs a partir de moléculas precursoras mínimas”, acrescentou.

Essa tecnologia oferece uma série de benefícios. Em primeiro lugar, uma única aplicação de pulverização pode introduzir o vírus inócuo e produzir amiRNAs nos tecidos vegetais alvo, eliminando a necessidade de múltiplos tratamentos e reduzindo os custos de aplicação.

Por exemplo, os pesquisadores demonstraram a inativação de genes associados à biossíntese da clorofila usando um único spray, levando ao amarelecimento dos tecidos afetados.

Carbonell disse que esta abordagem poderia potencialmente revolucionar a agricultura ao inactivar selectivamente a expressão genética, aumentando o rendimento das culturas e reforçando a sua resiliência às mudanças nas condições ambientais.

Além disso, a tecnologia poderia ser empregada para imunizar culturas contra vários patógenos, incluindo vírus.

Silenciar genes específicos nas oliveiras pode aumentar sua resistência à Síndrome do Declínio Rápido da Oliveira (OQDS), uma doença devastadora causada pela bactéria Xylella fastidiosa. Os pesquisadores identificaram genes-chave nas oliveiras que, quando silenciados, poderiam reforçar sua capacidade de se defender do OQDS.

As oliveiras possuem mecanismos de defesa e os investigadores estão a explorar formas de reforçar estas salvaguardas naturais. Ao visar genes específicos dentro das próprias oliveiras, os investigadores pretendem aumentar a sua resistência ao OQDS.

Os genes precisos identificados para silenciar desempenham um papel vital na interação da árvore com a Xylella fastidiosa. Alguns desses genes estão envolvidos na resposta da árvore à bactéria, influenciando a gravidade dos sintomas da OQDS. Ao silenciar estes genes específicos, os investigadores esperam alterar a resposta da oliveira à Xylella fastidiosa, tornando-a mais resistente à doença.

Silenciar esses genes na oliveira oferece uma solução potencial para combater a OQDS, ao mesmo tempo que minimiza a necessidade de pesticidas de amplo espectro. Esta abordagem não só aumentaria a resistência da árvore às doenças, mas também contribuiria para práticas agrícolas sustentáveis ​​e amigas do ambiente.


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